sexta-feira, 29 de abril de 2011

“Pessoas medíocres...”

Vinte anos atrás.
Passando pelo corredor, o encarregado pára o faxineiro e pergunta:
_ Você viu a Agnes?
_ Deve estar puxando o saco do Sr. Antunes na sala de reunião!
_ Cara, pra que essa resposta atravessada?
_ Você perguntou eu respondi! Ela ta la sim com um monte de papel falando de uma porcaria de computador novo que a empresa precisa e ele não quer comprar agora. Disse que fica muito fora do investimento que tem de fazer.
_ Hum! Que bom! Sabe onde ela esta, sabe o que eles estão fazendo e sabe também o que é o assunto. Muito bom.

Dez anos atrás.
Passando pelo corredor, o diretor pára o faxineiro e pergunta:
Sabe onde a Sra. Agnes esta?
_ Ta na sala de reunião com aquele saco de espinhas chato do Humberto resolvendo umas coisas do departamento de engenharia.
_ Só perguntei onde estava não o que estavam fazendo. Escuta, quanto tempo você trabalha aqui?
_ Onze anos. – Viu que falou besteira – por quê?
_ Nada! Acho que ta explicada o porquê ainda não teve uma chance.

Hoje no refeitório.
_ Saco! Como se não bastasse agora tenho de ficar limpando a cozinha também! Esse dois são dois incompetentes! Não prestam pra nada. Credo! Como a empresa pode manter dois retardados assim?
Ele estava tão preocupado com a falação que não notou alguém as suas costas.
_ Ta falando de quem Toninho?
O susto foi o suficiente pra ele quase grudar no teto. Era Cris que acabara de entrar junto com o Humberto. ‘Aquele’ Humberto.
_ Nada não dona Cris. É que eu to arrumando aqui e o pessoal saiu e deixou uma bagunça. Inclusive o João. Que foi com o Carlos lá na padaria e deixou esse lixo aqui em cima.
Humberto viu o ‘lixo’ e deu um sorriso. O livro estava com o marcador de paginas e ele pode ver que na folha marcada tinha umas anotações. Não disse nada.
_ Vou esconder esse livro só pra ele aprender a não deixar as coisas jogadas.
_ Mas ele não deixou jogado. Esta onde não atrapalha, na estante com outros pertences. Só isso. – Disse Cris com um ar de revolta.
_ Ta bom! Mas da próxima vez nem penso ou aviso, jogo fora.
Ninguém mais deu ouvido.

No corredor
_ Toninho, você sabe onde esta a Cris!
_ Puxando o saco do Sr Humberto!
_ Credo! E onde ela esta fazendo isso? – Disse a moça da contabilidade em tom de brincadeira.
_ Na sala dele que mais parece um lixão! E eu que tenho de limpar aquilo tudo. Homem porco.
_ Ok! Pode deixar. Eu mesma vou procurar os dois.
_ Oh dona Suzy, antes de entrar bate na porta. O Sr. Humberto vai estar mais a vontade com a Cris.
Ela olhou bem pra aquele cara com ar de reprovação e se foi.

Na sala do Sr. Humberto.
_ Bom, vamos ver se entendi. Você gosta de um rapaz quatro anos mais novo? É isso? O que tem demais?
_ Tenho medo de ficar falada.
_ Alguém aqui paga suas contas?
_ Não!
_ Isso é tudo. Viva a sua vida. Quem quiser viver a sua que pague suas contas também. E o felizardo já sabe?
_ Não!
_ Se vira então. Pode ir. Entendeu o que disse sobre o relatório?
_ Entendi. Mas...
_ Não sou conselheiro amoroso. Você mesma resolve isso. O máximo que posso fazer é perguntar discretamente se ele quer, gosta ou se esta interessado. Mas digo que é bem inteligente. Meio doido, mas inteligente.
_ Ok! Então vou indo. Depois eu te envio o que me pediu.
Nisso alguém bateu á porta.
_ Pode entrar.
_ Licença, eu posso pegar as coisas pra fazer a faxina?
Os dois dentro da sala se entreolharam e Cris ia dizer algo quando Humberto, simplesmente levantou a mão e disse.
_ Cris...
Ela.
_ Fui...
_ Pode fazer seu trabalho ai Toninho, vou tomar um café e falar com o pessoal. Quanto tempo demora?
_ Uns dez minutos. Quer que empilhe os livros?
_ Não precisa, vou buscar umas caixas e guardar eles. Vão todos para a reciclagem.
_ Nossa! Que pena! Não servem pra mais nada? Ou o senhor cansou de tentar entender o que estava neles?
Somente o mesmo sorriso no rosto de canto, já habitual de Humberto.
_ Já volto. Vai fazendo o trabalho ai. Quer um café?
_ Quero não! Obrigado.
Humberto na saída pegou um papel que estava em cima da mesa escrito “Resumo numero 3 1 – João Paulo” e se foi. Nele estava escrito:




"A cada época surgem novos conceitos de criação e fim. Com eles vem também a certeza que nada é certo ou pelo menos totalmente correto. Adaptações são necessárias e o velho fica para trás. Não há nada a temer se você for quem realmente é."





“...falam somente de outras pessoas”



Fim

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